O par de olhos por trás do nariz andam por sobre os pés
que empurram o chão para trás em meio á multidão
até parar, onde vou parar?
Paro em um lugar qualquer, respiro uma ultima parcela do ar adulterado dessa cidade adulterada com cidadãos adulto-errados.
Fecho os olhos e me jogo no trilho no exato momento em que o maquinista freou o trem... E minha vida inútil se arrastará por mais alguns segundos.
Volto para casa com vergonha de mim mesmo, e a perplexidade da "missão não cumprida" me atormenta.
No banheiro, muitos remédios ao mesmo tempo podem dar fim à minha miserável existência. Tomo todos de uma vez, desde remédios para gases e dor de cabeça, até alguns tarja preta de meu tio-avô.
Desabo desacordado no banheiro, tomei a precaução de trancar a porta. Agora ninguém tentará me salvar enquanto apodreço em meu paraíso de azulejos verdes.
Acordo em uma mesa de hospital. O medico disse algo que não consegui entender, mas parecia estar muito bravo. Gritava comigo, e eu reparei que não conseguia mover mais os membros inferiores.
Olhei para ele e perguntei" Dr. Isso vai me deixar impotente?" ele respondeu com indiferença “você não estava pronto para morrer? Matou metade de você, agora você é sua metade de cima. As pernas e o pênis simplesmente estão desfalecidos. E você teria matado todo o seu corpo se não fosse essa Senhora”.
Disse a apontou para minha tia, e de repente senti um tremendo ódio dela, que estava tomando um chá de pé com os olhos vermelhos, o rosto molhado e abriu um sorriso ao me ver aproximar na mesa que o medico empurrava. Abraçou-me forte a titia, me disse amar, e que estava preocupada, "por que não me deixou morrer?" perguntei em minha mente, mas não tive coragem de perguntá-la.
Quando saímos do hospital. Cerca de 3 horas depois, ela me encaminhou para um carro, de um amigo dela.
Eles haviam retirado o banco do passageiro da frente para que eu entrasse com a minha cadeira de rodas.
Quando ela terminou de me aconchegar no meu "novo" lugar no carro, deu a volta no carro para entrar na porta traseira.
Foi rápido demais, e não me pareceu real por muitos e muitos dias. Em instantes ela estava comigo, logo após estava branca no chão. Um carro desgovernado a pegou em cheio.
Ela estava lá por minha causa, foi minha tentativa inútil de suicídio inútil que fez a minha tia útil morrer.
E a culpa me perseguirá logo ao lado da minha sombra para o resto da minha vida.
Tentei encarar a vida da forma certa agora, de frente. Todos os problemas vieram e foram, e sobrevivi a todos. Menos ao meu ultimo suspiro, que me foi tomado por uma infecção no pulmão. E morri honrosamente como um vergonhoso suicida-mal-sucedido.