11 de nov. de 2011

Escola

Respondendo à pergunta: Escola serve para que?... Escola é uma fábrica de robôs, criada para os consumidores em potencial, na qual eles te retiram o discernimento através de um rígido sistema de demonização da diferença, que faz com que os alunos busquem um padrão de comportamento e de pensamento. Eles te ensinam a fazer contas, pois eles querem que você saiba pagar as contas da sua futura casa, eles te ensinam a ler, para que você obedeça à todas as leis que eles te empurrarem, eles querem que você pratique atividade física para que você não morra no meio do caminho. A escola é o lugar onde o ser humano torna-se coisa, onde o desenho da borboleta é mais bonito por que a professora ( pobre alma mal preparada e mal remunerada) não compreendeu o surrealismo digno de Dali que você usou nas suas montanhas sob o luar de fim de agosto. É o lugar aonde nada pode ser diferente do que já existe, as pessoas diferentes são excluídas, as ideias diferentes são excluídas. Escola, Igreja e Família formam a tríade que te levará a não ser mais quem você é, buscando te influenciar de todas as formas possíveis. Você não mudará o mundo para melhor nem para pior, apenas patrocinará o continuísmo, defendendo com unhas e dentes idéias plantadas em você.

30 de ago. de 2011

Sinto

Sinto, logo, existo.

Vejo... estão chegando, estão chegando outra vez mais.
Aproximam-se, ouço os cascos dos cavalos batendo no chão.
O cheiro do meu suor de repente parou de me icomodar, senti aquele pulsar de adrenalina se espalhando de sua forma gélida e logo após morna pela minha corrente sanguinea.
Senti meu sangue escorrendo pelas minhas costas, "aproximadamente 4 dedos abaixo do meu pulmão " pensei.
Corri como se a dor fosse suportável. Após encontrar abrigo é que a dor realmente chegou.
Estava ferido.

Não fosse a chuva meu rastro sanguineo estaria facilmente rastreável.

Adormeci, e acordei, não sei quanto tempo depois, talvez a bala tenha pego apenas de raspão, a dor continuava pungente, porém, agora, eu só podia pensar em sobreviver.

Ouvi os cães. Corri para fora dos arbustos em que me encontrava. Subi na primeira árvore que vi. Ouvi balas cortando o ar metros atrás de mim, talvez tanham me visto, talvez estejam blefando. O fato é que o mundo está ficando perigoso demais para mim. Porém. Não pretendo sair dele tão cedo. Não sei quantas horas se passaram desde que estava à beira do rio a beber àgua. Sabia apenas que continuava sangrando, e que assim morreria em breve. Mas não nas mãos daqueles seres desumanos, nem de seus servos cães. Livres somos nós. As raposas.

9 de ago. de 2011

Solitário

Eu vinha andando pela rua, me pediu um cigarro. Dei o cigarro e um troco para comprar um vinho, ninguém merece o frio deste mês sem um bom vinho.
Me agradeceu, como deveria fazer, e cuspiu na minha cara.

E esta foi a primeira vez que nos vimos, parecia me perseguir onde quer que eu estivesse.
Por 3 anos, o vi em lugares inesperados todos os dias.
Um dia, vestido de Armani sentado na mesa do meu chefe, outro dia jogado no chão com roupas rasgadas e um trapo de cobertor velho.

Não sei bem quem é. Na verdade, não sei nem se ele existe.
Ele drena meus sonhos, sempre me senti um tipo de deus. E de repente eu nem sei como poderia evitá-lo.

Sou um deus prepotente que mora de aluguel em um apartamento de 36m², definitivamente não sou um deus, aquele olhar triste e sádico me assombra. Tenho medo de me tornar assim, de um dia sentar-me na mesa do meu chefe, e no outro dia deitar-me na rua sob um trapo de cobertor velho. Solitário, o mais triste é que está sempre solitário. Será que termino assim?

( Postado no Quimera Tônica - dia 26/06/2011 )

22 de mai. de 2011

10:32 AM - 23/03/2011 D.C.

Os vi todos,

Ao passar, ví-os rastejar,
Ví-os pedir
Ví-os...
Fome...

Ví, vim, acovardei-me e nada fiz,
Não tenho vergonha disso,
Nada poderia fazer,
ou pelo menos,
isso sempre foi o que quiseram que eu pensasse...

( Publicado no Quimera Tônica - dia: 23/03/2011 )

Isaac

" Isaac tinha mais que alguns feijões nos bolsos" os pais dele disseram, nervosos.

O Isaac agora estava internado, e parecia ser "para sempre", ou pelo menos para o "enquanto dure", o efeito ou Isaac.

Isaac não gostava de carnaval...
Isaac não lia Camões...

Isaac era um filho da puta, daqueles que não fazem nada, mas sempre que você o via dava uma vontade de atacar uma pedra. Alguns corriam atrás dele...

Foi encontrado no centro de exposições, às 3 da tarde, semi-vivo, morreu a caminho do hospital. Tinha 3 feijões no estômago, sua refeição na última semana.

( Publicado no Quimera Tônica - dia 21/03/2011)

Padrões

Era um daqueles que vivem num mundo normal,
Lia coisas normais, ouvia músicas normais,
Brincava na rua normal
Caia...
___________...e...
_______________...ralava o jelho...
___________________________...normal...

Suas notas, na escola, eram normais
para um menino pobre
tinha um cachorro normal, que latia normalmente

Sua familia era normal, sua mãe era normal,
Seu pai era normal ...
________________... Seu tio...
________________________Seu avô...____________________normais...
Seus sonhos... futuro...

Seu fim... tudo era normal demais para se acostumar...

Normal...________________previsível...____________________ tornou-se desprezível...

Tinha um fuzíl normal, daqueles que os soldados normais,
normalmente usam nas guerras normais...

Planejou isto pelos seus trinta e cinco normais anos de vida- Vida normal

Levou de forma anormalmente deplorável, todos os próximos, junto a sí, para o inferno.

( Publicado no Quimera Tônica - dia: 03/03/2011 )

Anna

Anna era do tipo de gente que tem o poder de encantar por onde passa.
Parecia que as flores ficavam mais lindas, que o ar ficava mais fresco, que o feijão ficava mais gostoso. Era dotada de um sorriso que faria o melhor dos guardas do rei abrir o quarto do rei e matá-lo se ela pedisse.

Não comia carnes - costume incomum para a época- pois não queria matar nenhum animal.

Usava roupas confortáveis, nada muito bonito, trabalhava na roça com seus pais, e estudava na escola improvisada da cidade, onde a aula era dada pelo padre ( único cidadão que sabia ler e escrever, não só a língua local, mas também em latim) que aproveitava os inícios das aulas para dar a sua catequese.

As habilidades do padre sempre a impressionaram. Como alguém poderia ler e escrever em duas línguas?

Seu vestido mostrava os tornozelos com cuidado, uma mulher com panturrilhas à mostra era uma desesperada por um homem para casar-se. Aos 15 anos, a pequena sociedade já a pressionava para que arrumasse um marido, não que Anna não quisesse, seus seios já eram desenvolvidos o suficiente para aparecerem pressionados contra o tecido do vestido, o que fazia muitos garotões olharem-na com cara de bestas selvagens, simplesmente não queria agora. Queria mesmo era aprender a ler, e procurar algum trambiqueiro para lhe arrumar um bom livro grego, ah os gregos!, queria entender aquela coisa de filosofia, o padre dizia que era coisa do demônio, mas nada mais humano do que o demônio que para ela era uma invenção humana, como aquele papo de que era possível chegar à lua. Haviam terras além dos olhares, sabia que os horizontes escondiam pessoas e histórias incríveis, como o próprio cristo, que o padre sempre agradece no nosso idioma após minutos de enrolação em latim, não entendiam nada do que ele estava falando, e ele poderia estar vendendo-lhes para o demônio se quisesse. Mas era a melhor parte da aula sem dúvida. Ela ria e imaginava o significado de cada palavra que o padre dizia.

Morreu após ser pega, anos depois, lendo A República de Platão, autor considerado um grego blasfemador e como todos os gregos teve sua leitura proibida durante toda a Idade Media, acusada de bruxaria.

O padre que lhe dava aulas falou enrolado em latim pela ultima vez, ela estava amarrada à sua mãe e seu pai na fogueira ( uma bruxa não morre sozinha), de forma irônica, percebeu as enrolações do padre com um tom triste, a cidade estava de luto, mas deviam cremá-la, era a ordem direta do vaticano, quem ousaria desobedecer o vaticano? As bruxas tinham de ser eliminadas de forma cruel, seus pais foram amarrados mais abaixo na fogueira, para que ela os visse morrer antes de alcançar sua morte. Sua mãe agora com 35 anos e já acima da expectativa de vida regional, chorava e não conseguia olhar para a filha. Seu pai, homem forte e sempre sério, olhava sem foco para o horizonte da cidade. O padre terminou a enrolação. Olhou-a nos olhos com lágrimas visíveis e disse: " sempre desconfiei de você Anna, uma pessoa que toma banho todos os dias- uma pessoa limpa não precisa lavar-se tanto, era no que acreditavam na época( espanhóis fedem até hoje)- ler gregos? pra que? se Deus nos mandou o único livro que precisamos ler."

A cidade toda estava lá, era a lei, quem não estivesse era acusado de bruxaria e naquele vilarejo, não haviam muitos eventos destes por décadas, ninguém queria ser o protagonista do próximo, o padre ergueu seu crucifixo e ordenou a todos que erguessem suas mãos direitas, enrolou algo em latim, com voz ríspida e rouca, e leu o édito (documento da época que perdoava heresias como judaísmo e islamismo, desde que a pessoa se convertesse e entregasse à igreja, para a fogueira, seus parceiros de religião), e como ninguém se manifestou, ordenou que acendessem a fogueira.

O feno na base da fogueira estalava com o calor, Anna já podia ouvir seus pais gritando de sofrimento aos seus pés, o cheiro da carne assando de seus pés estava causando-lhe naúseas, seus pais já estavam desmaiados e ela sentia que estava para desmaiar, a morte no fogo não acontece ao desmaiar, você acorda antes de morrer para gritar de dor. Os três gritos foram ouvidos quase juntos, seus pais primeiro e o desespero da notícia a fez começar o seu antes, alguns segundos depois e o seu próprio grito de morte começou. Grito que atormentou a mente do padre até o final dos seus dias.

( Publicado no Quimera Tônica - dia 13/02/2011 )

Xícara

Não tenho mais paciência pra cigarro e bebida. Além de tudo, acabam com meu estômago.

...

Alguém bateu à porta, não sei quem é. Arrancar-lhe-ei a cabeça.
Não tenho paciência com estranhos. Perco facilmente minha paciência comigo mesmo.
Meus bichinhos de pelúcia estão com medo. Que tipo de homem tem bichinhos de pelúcia?

Melhor mesmo é fornicar com desconhecidos mentalmente. O toque humano é ultrajante.

Perco-me facilmente em minhas próprias teorias. Me assusto às vezes ao saber que algumas pessoas inteligentes tem teorias parecidas, e muito quando leio frases identicas às que considerava minhas. Talvez seja o mesmo sabor de chá. Talvez sejam os bichinhos de pelúcia falantes.

Tenho medo de bonecas. Que tipo de idiota satânico sádico com desejos pedófilos as criou? Aposto que a primeira boneca já era uma boneca inflável. Como ver algo belo numa reprodução da imagem humana. Como se o reproduzido fosse melhor do que o seu original.

A única coisa boa no ser humano, é que nós morremos.

Gosto mesmo é de rosas. Tenho medo do escuro.

( Publicado no Quimera Tônica - dia 04/02/2011 )

28 de jan. de 2011

Metrô - O Filme


Vida é como um metrô, às vezes você está apenas sentado naquela grande estrutura de metal em movimento vendo verdadeiros anos passarem pelas janelas.
Às vezes alguém acaba com sua prórpia vida nos trilhos, às vezes você espera encontrar alguém que já se foi em uma outra estação.
Você simplesmente vê de longe, como um mero coadjuvante, enquanto o papel de protagonista que devia ser o seu, passa pelas telas de vidro. É realmente como se você estivesse em piloto automático.
Você olha para a frente e vê a luz no fim do túnel. Ou será a sé? Enquanto isso... a vida passa.