16 de abr. de 2008

Papo de índio

Sentou-se na cabana e pegou o cachimbo, elevou a fumaça, aspirou sonho, e assim sonhou.
Acordou de repente em um quarto estranho.
"Onde estou?" perguntou a si mesmo.
"No inferno" respondeu á sua própria pergunta.

Caminhou com suas vestes, que se já não estivessem num cabide ele nem saberia serem vestes - um sapato apertado e quente e um paletó preto sufocante- não abotoou os botões, pois não sabia que serviam para isso.

Caminhou para algum lugar que não sabia onde era, seguindo as multidões. Entrou na estação de metrô, onde sentiu a necessidade de pegar aquele transporte brutalmente rápido e metálico. Observando as pessoas ao seu redor pagou um bilhete e pôs-se a viajar.

Ao chegar a uma estação, sentiu o desenfreado desejo de descer. E seguindo outros que desciam ali, desceu e lá subiu um lance de escadas. Estava dentro de um shopping. Muito embora um índio não imaginasse o que pode ser um shopping center, andou lá como um exímio empresário. Ao passar em frente a uma loja, o rapaz lhe olhou rabugento e exclamou:
-Tá atrasado porra!
- Perdão senhor.
- Perdão o caralho! Vai trabalhar e pare de perder o meu tempo.

E o rapaz entrou...

Dentro da loja, muitos brinquedos espalhados, mas sentiu que deveria subir um lance de escadas que estava no último corredor com a prateleira 8 (que ele sabia que era a área infanto-juvenil - que continha jogos de tabuleiro - não me pergunte como ). Subiu e lá entrou numa apertada mas bonita sala. Cadeira de couro, mesa preta, computador, papéis e mais papéis sobre a mesa.

Lá ele pegou um telefone, de uma jovem morena nua em seu panfleto. O nome era Clarisse Esperanza. Ligou e chamou-a, ela reconheceu a voz. E já sabia o endereço. Em menos de uma hora a bela prostituta estava em sua sala com uma lingerie preta acariciando seus testículos.
Após a transa ela pediu o dinheiro que na primeira gaveta de sua mesa já estava reservado. E foi-se.

...

Terminado o dia de trabalho. Voltou para casa e deitou-se no sofá. Lá pegou um "baseado" que estava enrolado na mesinha da sala e acendeu-o. Relaxou até apagar.

...


Acordou numa cabana. Conversando com outro índio.
Este lhe dizia:
- Nada que acontece com você depende realmente de você, tudo é influenciado pelo ambiente em que se vive.
Ouviu tudo isso embaçado, e peguntou:
- Quem és?
- Sou aquele que toma as decisões por você. Você é apenas uma máquina no meu domínio. A cabana é a sua mente. E eu sou seu sub-consciente.
- Eu ainda tomo as decisões!
- Eu quero que você me conteste. Me conteste!
- Eu me governo, não sou mero brinquedo seu!
- Me conteste! me conteste!
- Vou acordar agora e me matar!
- Você irá se matar por não se controlar, ou por não tê-la conquistado?
- O que?
- Eu sei o que está pensando agora, não há como fugir de mim, eu te conheço melhor do que você mesmo, e se você quiser nos matar, saiba que isso não tem nada a ver com a sua frustração por ser minha mera máquina, e sim por não tê-la conquistado ao quinto ano do colégio, e que isso me choca também, como alguem como eu pode perder uma donzela daquelas para o resto dos jovens dotados de pênis, por isso não casamos e por isso eu e você somos um frustrado sem vida afetiva, comedor de putas, bem sucedido economicamente, solteirão de merda...

...

E o jovem não acordou.

( Esse texto foi postado no abacaxipatoshow no dia 02/04/2008 )

Um comentário:

Felipe C. Lisboa disse...

Não curti tanto... mas tem suas boas sacadas.