Eu vinha andando pela rua, me pediu um cigarro. Dei o cigarro e um troco para comprar um vinho, ninguém merece o frio deste mês sem um bom vinho.
Me agradeceu, como deveria fazer, e cuspiu na minha cara.
E esta foi a primeira vez que nos vimos, parecia me perseguir onde quer que eu estivesse.
Por 3 anos, o vi em lugares inesperados todos os dias.
Um dia, vestido de Armani sentado na mesa do meu chefe, outro dia jogado no chão com roupas rasgadas e um trapo de cobertor velho.
Não sei bem quem é. Na verdade, não sei nem se ele existe.
Ele drena meus sonhos, sempre me senti um tipo de deus. E de repente eu nem sei como poderia evitá-lo.
Sou um deus prepotente que mora de aluguel em um apartamento de 36m², definitivamente não sou um deus, aquele olhar triste e sádico me assombra. Tenho medo de me tornar assim, de um dia sentar-me na mesa do meu chefe, e no outro dia deitar-me na rua sob um trapo de cobertor velho. Solitário, o mais triste é que está sempre solitário. Será que termino assim?
( Postado no Quimera Tônica - dia 26/06/2011 )
9 de ago. de 2011
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